Na cama deitada desde ontem, fazem já quatorze horas que ela está ali, é um dia daqueles em que desejava ter dado uma morridinha. Olha pra cima e vê aqueles cartazes pregados nas paredes e no teto se desmanchando após terem apodrecido com a umidade da laje durante a temporada de chuvas. Eles secaram durante o verão e no outono estão caindo,em cima da cabeça dela.Um pozinho venenoso. Um pozinho de coçar nariz e que faz a cama ficar cheia de sujeirinhas que dão coceira.Essa é uma de suas neuroses, a cama tem que ser “batida” sempre antes de deitar, lençóis limpos são o ideal mas isso nem sempre é conseguido, às vezes por preguiça de trocar, às vezes por falta de disposição pra lavar aqueles que estão sujos,outras pra implicar seu amante que dorme na sua cama diariamente e nunca está disposto a trocar os lençóis. Isso é realmente irritante. Quando ele vem daquele jeito andando descalço no chão cheio de areia e senta na beirada da cama e roça um pé no outro pra tirar a sujeira. Isso por que ela grita – Limpa o pé!!
Quando está nesses dias é que entende a amiga que outro dia lhe disse estar com depressão profunda. Ela com empáfia perguntou pra si mesma: - Será depressão simplesmente falta de se fazer algo que gosta realmente? Depressão não é o contrário de felicidade? Será que dá pra ser simplista assim? No fim concluiu que sua amiga era uma coitada, que além de ter que se tratar com drogas tarja preta e trabalhar internamente suas próprias neuras tem que ficar convencendo a amiga “feliz” que tem depressão sim!. Que escrota eu sou, pensa ela. Mas peraí, eu não sou feliz! Será que isso me torna menos escrota? Às vezes das experiências mais sombrias fica tentando tirar coisas boas numa retomada moralista de raízes familiares onde sempre ouviu “o que não me mata fortalece”. Mas pra ela é fato que o que não a tem matado a tem endurecido. Sim, e tem morrido diariamente também. Fez um protesto estes dias, entrou num lugar onde viveu durante anos e arrancou tudo que tinha colocado nas paredes. Tudo mesmo, o que não deu pra arrancar riscou com um caneta pilot preta. Ao final do ato olhou ao redor e pensou, putz, essas pessoas não gostam de coisas nas paredes, por que, agora que tirei o que pendurei não sobrou nada! A conclusão a que chegou foi de que se não gostam de coisas nas paredes não vão sentir falta do que ela tirou e talvez sintam até alívio, e se isso for verdade então o que ela fez não foi um protesto, foi um favor. Isso desconfigura sua ação e a torna apenas uma louca desesperada arrancando coisas velhas das paredes dos outros enquanto em sua casa os cartazes de velhos e úmidos caem sobre sua cabeça.
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