terça-feira, 19 de agosto de 2008

14

notei que minhas anotações em determinada época do mês aumentam
anotei isto também
com algumas notas de observação claro
Nota1: pode ser a TPM;
Nota 2: pode ser uma depressão profunda;
Nota 3: pode ser desilução com as novelas;
Nota 4:não acho que com as novelas não;
Nota 5: será?

Na sexta nota cantei.
Na sétima, um notável senhor passou bem perto e cuspiu no meu pé!
Com toda vontade, não me mexi, de nojo, meu cachorro lambeu tudo e ficou por isso mesmo,
senhor mal educado este!
onde já se viu, cuspir no pé alheio nem notar e nem voltar pra lamber!
será que isso não é motivo suficiente para querer dar-lhe um chute no saco?
Ou será que vou ter que esperar o mês que vem pra fazer minha vontade valer e ser notada?
anotadas estas observações dou por encerrada esta mal sucedidade elocubração sobre a minha dificuldade de compor textos com palavras parecidas,
espero que você não note esta tentativa como um fracasso,
mas apenas como uma vontade de ser...

vírgulas fora do lugar, pra mim, são um charme...

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descobrindo aos poucos o que é ser só
acompanhada por 4sofáscamabox4mesasmuitoslivrosviniscdsdvdsmáscarasmil
sentada olhando pra isso tudo e pensando, que porra é essa?
antes precisava de pouco,
pensava muito
sorria mais
envelheci?
será?
então, morro amanhã, pra depois continuar de pé
sentada, olhando as coisas todas
sem me render a elas
e às pessoas também
sem me render às pessoas
olhares esguios, intenções não colocadas
faltas
ausências
exessos
muitos
diversos
dos mais variados
e faltas
ausências
muitas
variadas
das mais diversas
você viu hoje aquele cachorro?
tinha cara de gente!
Tadinho!
é, tadinho...
pensava que era cão, era mais feliz antes
agora vai se preocupar com
com o medo da mentira
com as desconfianças
aquele outro cachorro que é mais feliz
tem cara de cachorro
é sortudo!
sim, é sortudo!
mas bem que queria ser gente,
articular as palavras, dizer gírias enquanto se entorpece com drogas fabricadas de restos
mortais
estou só o resto
não me pergunte se são as drogas
não vou te responder
o patrulhamento está por toda parte
se uso patrulham
se não uso eu patrulho
pertubo
grito
fico louca!
de raiva
e de cara
sem nada, na cabeça
se não o espectro do problema
da morte e da dificuldade
a certeza de ir embora chegou hoje
quando decidi ficar ela foi embora
eu dormindo sentada olhando as coisas por dentro
eu a ouvi neste momento chamar no portão
aumentei o som
fingi que não ouvi
e fui dormir
sem tomar banho
gelado
que é pra não despertar!

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Obscura

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Quando ví que as coisas não iam bem contigo, pensei que a lógica das vírgulas é que estaria te afligindo. Se preocupa tanto com sua estilística que qualquer outro motivo me soava como tonto, como idiota, como aquilo pelo qual não vale a pena derramar pensamentos, principalmente por sobre aquela hora chata do dia, tipo uma seis, quando ainda não é noite mas dia também já não é mais. Essa hora pra mim é uma espécie de adolescência cotidiana. Uma deprezinha de calendário que chamo - cansaço da sobrevivência. Chegar a esse momento do dia, é sobreviver às mil mazelas de uma cidade inusitada e ao mesmo tempo tediosa, com informações novas a todo o momento, e ao mesmo tempo repetitiva no mais do mesmo, no mesmo, a esmo. Sempre que te olho penso em como isso tudo é banal pra você e o quanto as mudanças que ocorrerão na língua portuguesa te tomam tempo. O trema, os por quês... Quer saber tudo a respeito, cada ponto a ser mudado, cada vírgula! Sei da falta que a vírgula faz, sei da falta das vírgulas, faz três dias, dezesseis horas, vinte e um minutos que você não olha diretamente nos meus olhos que são em sua direção dois pontos de interrogação exclamando: Merda! Não tá me vendo? Não tá vendo a cidade? Eu tô falando dela! Da cidade! E cada vez que aprofundo meu olhar em você como um zoom endoscópico, te dilacero o fígado, dentro de mim. Vou continuar te olhando e ver no que dá. E vou chamar minhas amigas todas pra sentarem na sala de estar completamente nuas, rindo e tomando vinho barato daqueles vendidos em garrafa plástica enquanto falamos de quem consegue através de seu instrumento de absolver o mundo, Os olhos, Dialogar com outros e, não construir uma barreira, com dois pingüins de geladeira morando em cima. E pra ser bem democráticas, vamos falar também dos ouvidos, para aqueles que não enxergam. E também do tato para aqueles que não ouvem, nem enxergam, e talvez do olfato para os insensíveis, que não ouvem e não enxergam. E para sermos bem burocratas, isso tudo será dito e registrado em uma ata, lavrada por mim, assinada por todas, transformada em memorando e entregue acompanhada de um ofício a todos aqueles que vivem como alfaces, e que tem na hora da salada, enquanto são devorados com azeite e limão, seu momento de glória.

domingo, 27 de abril de 2008

Cafeteria Automática

11

Chegou até mim a poucos dias uma senhorinha simpática aparentemente de boa ídole. Ela estava com um pequeno livro nas mãos chamado "Manual de civilidade para moças". Me pareceu bem preocupada e carregando nas costas as dúvidas do mundo.Primeiro me perguntou onde ficava a padaria, bastante desinteressada, apontei sem me mexer para a direita onde fica a Casa do Pão. Quando pensei que estivesse satisfeita, ela me perguntou e As mulheres, onde ficam os dois buracos das mulheres? Sim por que neste ivro que tenho nas mãos, diz que nós mulheres temos dois buracos! Me pareceu bem preocupada. Eu sem me movimentar novamente apontei-lhe para os meios de suas pernas. Apontei-lhe a gruta. Digo gruta em alusão a um poema de Elisa Lucinda que ainda não decidi se gosto ou não. Aliás Elisa Lucinda para mim é uma incógnita às vezes gosto desgostando. Ela olhou na direção em que meus dedos apontavam e quando voltou a me fitar entreguei a ela o livro "Vaginas:Manual da Proprietária". Ela me pareceu desnorteada. Saiu rapidamente. Um olhar desatento poderia deduzir que a senhorinha estivesse indo para casa fazer um chá e tricotar um pouco enquanto assistia a novela das seis sobre uma gruta sagrada. Eu, já que tive tempo de pensar e observar acredito que ela ia em busca do primeiro espelho. Há, ela levou meu livro.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

10

Notícias de Jornal
A PSICOPATA E AS EXPLICAÇÕES SEM EXPLICAÇÃO. Duas velinhas e uma máquina de xérox Notícias de quando as mulheres não sabiam lidar com botões. MERCEARIA DO INFERNO VENDE OVOS PODRES : um reflexo da fragilidade da vida dos pintinhos em ambientes subordinados ao aquecimento global e às mazelas ambientais que Aracruz Celulose vem causando.FALAS DESPROPOSITADAS :os absurdos de quem pensa que seu trabalho é lixo e que acredita ser você a mais idiota das criaturas, além de te dar um pé na bunda quando aquilo que ela esperava já está em suas mãos. TRISTEZA : Mulher leva tapa na cara dado por homem pelo qual ela é apaixonada. VIZINHO ROUBA MÁQUINA DE CORTAR CABELO E SE TORNA BARBEIRO.

domingo, 13 de abril de 2008

9

meu teclado desconfigurou
o x virou m
e tá coxplemo de escrever
o a virou d
e nda ad mdis pra te escrever
cadê o ponto de interrogação (interrogação)

8

Os vizinhos não imaginam as coisas sórdidas que ela precisar fazer para receber de vez em quando uma massagem nos pés.

7

Passei tempo demais só passando...
olhei muito e ví bem pouco...
sorri e gozei de mentira também
sonhei que morri e acordei viva
viva demais
ademais
vida
só tenho uma mesmo
não sou gata
talvez rata
lagarta
nas paredes descendo
na diagonal andando
e
formando estrelas
o que crio me impede de ver

passo tempo demais só passando...

6

Na cama deitada desde ontem, fazem já quatorze horas que ela está ali, é um dia daqueles em que desejava ter dado uma morridinha. Olha pra cima e vê aqueles cartazes pregados nas paredes e no teto se desmanchando após terem apodrecido com a umidade da laje durante a temporada de chuvas. Eles secaram durante o verão e no outono estão caindo,em cima da cabeça dela.Um pozinho venenoso. Um pozinho de coçar nariz e que faz a cama ficar cheia de sujeirinhas que dão coceira.Essa é uma de suas neuroses, a cama tem que ser “batida” sempre antes de deitar, lençóis limpos são o ideal mas isso nem sempre é conseguido, às vezes por preguiça de trocar, às vezes por falta de disposição pra lavar aqueles que estão sujos,outras pra implicar seu amante que dorme na sua cama diariamente e nunca está disposto a trocar os lençóis. Isso é realmente irritante. Quando ele vem daquele jeito andando descalço no chão cheio de areia e senta na beirada da cama e roça um pé no outro pra tirar a sujeira. Isso por que ela grita – Limpa o pé!!
Quando está nesses dias é que entende a amiga que outro dia lhe disse estar com depressão profunda. Ela com empáfia perguntou pra si mesma: - Será depressão simplesmente falta de se fazer algo que gosta realmente? Depressão não é o contrário de felicidade? Será que dá pra ser simplista assim? No fim concluiu que sua amiga era uma coitada, que além de ter que se tratar com drogas tarja preta e trabalhar internamente suas próprias neuras tem que ficar convencendo a amiga “feliz” que tem depressão sim!. Que escrota eu sou, pensa ela. Mas peraí, eu não sou feliz! Será que isso me torna menos escrota? Às vezes das experiências mais sombrias fica tentando tirar coisas boas numa retomada moralista de raízes familiares onde sempre ouviu “o que não me mata fortalece”. Mas pra ela é fato que o que não a tem matado a tem endurecido. Sim, e tem morrido diariamente também. Fez um protesto estes dias, entrou num lugar onde viveu durante anos e arrancou tudo que tinha colocado nas paredes. Tudo mesmo, o que não deu pra arrancar riscou com um caneta pilot preta. Ao final do ato olhou ao redor e pensou, putz, essas pessoas não gostam de coisas nas paredes, por que, agora que tirei o que pendurei não sobrou nada! A conclusão a que chegou foi de que se não gostam de coisas nas paredes não vão sentir falta do que ela tirou e talvez sintam até alívio, e se isso for verdade então o que ela fez não foi um protesto, foi um favor. Isso desconfigura sua ação e a torna apenas uma louca desesperada arrancando coisas velhas das paredes dos outros enquanto em sua casa os cartazes de velhos e úmidos caem sobre sua cabeça.

5

tava precisando ser menos casada
menos nora
menos filha
menos tia
menos irmã
precisando ficar a deriva
ver se por acaso me encontro pelo caminho
me digo oi como vai
só por educação
me olho por alguns minutos como no espelho do banheiro
pensando naquela imagem estranha
como a do ator que olho há anos
e que nunca vi
um olho
boca
nariz
estranhos
sensações iguais

ia me esquecendo
menos neta também

sábado, 12 de abril de 2008

4

Ele ordenava que ela se sentasse e calasse a boca enquanto a chamava de vagabunda, lhe dizia coisas como – Não sou seu macho pra que me trate assim, não sou seu moleque. Ela pensava não se preocupe, meu macho não trato assim. Isso ela pensava enquanto dizia pra ele que lhe desse aquele tapa na cara se fosse homem de verdade. Durante alguns segundos pensou em como devia tratar seu macho com leves carícias no pescoço e massagem nos pés, afinal, é dando que se recebe. Em meio a gritos estéricos de uma irmã e orações de sua mãe algo na TV chamou a atenção de todos na sala fazendo com que os ânimos se dispersassem. Neste momento na sala já se ouviam mantras de agradecimento. Antes mesmo de receber a benção solicitada. Ela e seu pai já não se importavam mais. Já haviam deixado de lado toda aquela bronca.Em seguida ela foi pro banheiro e sentada no vaso refletiu por alguns minutos sobre seus traumas de infância, ouvia lá fora a voz dele já mais calma dizendo a toda a família presente na sala, inclusive tios e primos distantes, que aquilo não podia continuar e que ele não permitiria...ela sentada ouvia o discurso patético de quem só sentiu o orgulho ferido por ter perdido ou talvez nunca encontrado a autoridade tão desejada. Ela deu uma gargalhada lá dentro e o silêncio se fez na sala , acabara de se lembrar de quando tinha 13 anos e ele a chamou de puta ou algo assim. Pixou na porta do quarto a frase “Quarto da vadia, favor bater.”

3

sobre jogos
romances
sexo mal feito
e
gozadas não dadas
não estou preparada a falar
que tal falarmos de alguma questão social
sem jogos era o que eu queria fazer...
amanhã então conversamos sobre tudo e depois você diz que sim tudo bem,
eu ouço smiths e a trilha sonora de amelie poulain...ótimo
sou eu mesma falando aqui
sim sou eu
oi
como vai
bem
hum, só perguntei por educação
quer jogar
o que
sei lá
pique alto
legal
tá com você
sacana, você tá no meio fio
e vou continuar aqui
desce
não
te empurro
não vale
não brinco mais
perdeu
quem decidiu isso
eu, só tem nós dois aqui
desce
sobe
tá bom
e agora quem pega a gente
a gente pode se pegar mutuamente
não dá
por que
nós dois estamos no alto
não vai começar de novo
por que você sempre acha que quero discutir a relação
por que você sempre quer
não
sim
às vezes

2

senti que tava com você
contei até dez
respirei fundo
do canto do muro olhei pelo buraquinho da lojota
ok
tudo bem
posso então correr até o muro e dizer cheguei
e você então diz meu nome com pressa
querendo parecer que me viu antes de eu me entregar
pega pega já cansou
vamos brincar de pique alto

1

pensei em escrever sobre algo a meu respeito
entende
sobre algo a meu respeito
despeito meu mesmo
egocentrismo puro
um que delícia