Quando ví que as coisas não iam bem contigo, pensei que a lógica das vírgulas é que estaria te afligindo. Se preocupa tanto com sua estilística que qualquer outro motivo me soava como tonto, como idiota, como aquilo pelo qual não vale a pena derramar pensamentos, principalmente por sobre aquela hora chata do dia, tipo uma seis, quando ainda não é noite mas dia também já não é mais. Essa hora pra mim é uma espécie de adolescência cotidiana. Uma deprezinha de calendário que chamo - cansaço da sobrevivência. Chegar a esse momento do dia, é sobreviver às mil mazelas de uma cidade inusitada e ao mesmo tempo tediosa, com informações novas a todo o momento, e ao mesmo tempo repetitiva no mais do mesmo, no mesmo, a esmo. Sempre que te olho penso em como isso tudo é banal pra você e o quanto as mudanças que ocorrerão na língua portuguesa te tomam tempo. O trema, os por quês... Quer saber tudo a respeito, cada ponto a ser mudado, cada vírgula! Sei da falta que as vírgulas fazem, sei da falta das vírgulas, faz três dias, dezesseis horas, vinte e um minutos que você não olha diretamente nos meus olhos que são em sua direção dois pontos de interrogação exclamando: Merda! Não tá me vendo? Não tá vendo a cidade? Eu tô falando dela! Da cidade! E cada vez que aprofundo meu olhar em você como um zoom endoscópico, te dilacero o fígado, dentro de mim. Vou continuar te olhando e ver no que dá. E vou chamar minhas amigas todas pra sentarem na sala de estar completamente nuas, rindo e tomando vinho barato daqueles vendidos em garrafa plástica enquanto falamos de quem consegue através de seu instrumento de absolver o mundo, Os olhos, Dialogar com outros e, não construir uma barreira, com dois pingüins de geladeira em cima. E pra ser bem democráticas, vamos falar também dos ouvidos, para aqueles que não enxergam. E também do tato para aqueles que não ouvem, nem enxergam, e talvez do olfato para os insensíveis, que não ouvem e não enxergam. E para sermos bem burocratas, isso tudo será dito e registrado em uma ata, lavrada por mim, assinada por todas, transformada em memorando e entregue acompanhada de um ofício todos aqueles que vivem como alfaces, e que tem na hora da salada, enquanto são devorados com azeite e limão, seu momento de glória.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
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